Depois de quase 50 anos de embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, a ilha de Cuba caminha agora para reformas que buscam tornar mais fácil resistir à política de sufocamento norte-americana. No entanto, além da economia, o regime cubano enfrenta cada vez mais um bloqueio midiático, por parte da grande imprensa, que filtra a maioria das informações e publica apenas notícias negativas sobre o país.
Esta é a tese defendida pelo jornalista Mario Augusto Jakobskind, que ele expõe em seu livro Cuba: apesar do bloqueio, lançado nesta terça-feira na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. A obra é uma atualização de outro livro que o autor já tinha escrito em 1984, quando esteve em Cuba. O jornalista, que foi editor de Internacional do jornal Tribuna da Imprensa por 15 anos e hoje colabora com a mídia alternativa, escreveu o livro como uma tentativa furar esse embargo de informações.
Jacobskind, que é representante da ABI no conselho curador da Empresa Brasil de Comunicações (EBC), afirmou nesta entrevista que, atualmente, “o Brasil se faz presente em Cuba”, que o mito da “ditadura” cubana não se sustenta e que a cobertura da mídia “não reflete essa realidade”.
– Como você definiria esse livro?
– Eu o entendo como uma extensa reportagem sobre um país pouco conhecido pelo mundo. Traz uma visão vasta que não se encontra em nenhum grande jornal ou revista – na mídia tradicional, na mídia de mercado. É um desdobramento de um livro que escrevi quando estive lá pela primeira vez, em 1984, e a revolução cubana completava 25 anos. Naquele livro, havia prefácios do Henfil e do João Saldanha (ambos já falecidos). Era outro momento. Ano passado, algumas pessoas insistiram para que eu reeditasse. Claro que teria que haver uma atualização. Este que lanço hoje é praticamente um novo livro, pois a revolução cubana já tem 51 anos. A idéia é furar o esquema de bloqueio midiático através de uma ampla reportagem sobre fatos que eu presenciei, tendo morado lá por um ano.
– Cuba mudou muito de 1984 para cá?
– A questão é que o mundo mudou completamente, mas Cuba continua bloqueada… Uma situação sem precedentes na história contemporânea. Agora, há uma diferença considerável na relação diplomática e comercial do Brasil com Cuba. Isto avançou muito durante os oito anos de governo Lula. Em 1984, era bem mais difícil para os brasileiros que queriam visitar a ilha, enquanto hoje o Brasil se faz presente em Cuba. Desde a reconstrução do Porto de Mariel até as atividades do centro artístico Gaia (em Havana).
– Você falou em “bloqueio midiático”. Que paralelo faria deste com o bloqueio econômico imposto pelos EUA?
– Ambos são implacáveis. O bloqueio econômico influi no país internamente, impondo muitas restrições e prejudicando o padrão de vida dos cubanos. O midiático é a desinformação externa, que cria no mundo um senso comum que demoniza Cuba. A imprensa mundial não se cansa de dizer que lá é “uma ditadura”, chegam ao absurdo de chamar de “ditadura dos irmãos Castro” (diz, balançando a cabeça negativamente). Isso não reflete a realidade.
– Como você definiria Cuba?
– Uma ilha, vizinha dos Estados Unidos, que fez sua opção pelo socialismo, onde o comércio conseguiu sobreviver ao fim da União Soviética, com extrema dificuldade. Fadada ao fracasso – quantos no mundo já decretaram sua ruína – a ilha não acabou, continua aí. Apesar do bloqueio.
– Deriva daí o nome do livro?
– Sem dúvida. E digo que esse seria o título de uma matéria de fôlego longo que eu gostaria de ver em nossa grande imprensa, mas não teria espaço…
Fonte: Correio do Brasil
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